sexta-feira, 3 de junho de 2016

Barragem no "canal da aracruz" filtra os rejeitos da mineração - incluindo o vôo do drone.

Em fevereiro eu estava dando continuidade ao acompanhamento da situação no vale do rio Doce, iniciado por Mariana e descendo até Baixo Guandu, num passo a passo de histórias e imagens ao longo do rastro de destruição e morte deixado pela passagem da tsunami de rejeitos da mineração, em dezembro. Em fevereiro parti pra Regência, pelo litoral norte do Espírito Santo, a fim de subir o rio até Baixo Guandu e fechar o ciclo.
Tronco submerso, ainda marcado pela cor da lama de rejeitos. 
No caminho, passamos por duas aldeias indígenas - Guarani e Tupiniquim - e por um acampamento do MST, onde paramos pra um papo. Tomando um café numa das barracas de lona preta, fiquei sabendo que não eram lavradores ali, mas pescadores pobres, que viviam com suas famílias da pesca pequena, num canal aberto pela Aracruz Celulose, anos atrás, para levar água do rio Doce à fábrica de celulose, já que o rio Riacho não tinha água suficiente. Uma transposição que não foi noticiada pela mídia, ao que me parece, apesar de ter havido movimentos de protesto, em geral inúteis quando se trata de interesses mega-empresariais - invariavelmente financiadores de campanhas eleitorais e, por isso, com forte poder de pressão sobre parlamentos, prefeituras e governos. O canal acabou enchendo de peixes e as famílias se instalaram ali pela necessidade de sobrevivência, até que a onda dos rejeitos barrentos desceu pelo rio e entrou no canal, matando todos os peixes. Sem ter como sobreviver, as famílias se reuniram nesse acampamento, enquanto o jurídico do MST tratava de conseguir indenizações e condições de sobrevivência da mineradora.
O pessoal do acampamento.
Eles disseram que depois de uns dias, a água começou a clarear até ficar transparente de novo. A lama da Samarco danificaria as máquinas da fábrica, então deu-se um jeito de limpar. De que maneira, eles não sabiam. Fotografei o canal.
O canal da Aracruz Celulose, hoje Fibria.

Depois de Regência, seguimos na busca da entrada desse canal, no rio Doce. Passamos por fazendas de cacau e por poços de petróleo do tipo martelo, erramos, mas acabamos chegando. O nome dado pela empresa foi "canal Caboclo Bernardo, um herói da região, mas a população local não o conhece por esse nome, mas por "canal da aracruz.
Não pude fotografar o filtro e o início do canal, a segurança não deixou, mas peguei umas imagens do lado de fora, inclusive dois canos que retornavam do filtro-barragem, devolvendo os resíduos retirados da água ao rio Doce. Não me conformava com a filtragem da água aplicada às necessidades das máquinas de esmagar madeira pra fazer celulose, enquanto todas as cidades ao longo do rio sofriam com morte de tudo o que vivia no rio. A tecnologia de filtragem existe e não estava sendo usada para os milhões de habitantes do vale, mas pras máquinas a filtragem aconteceu em menos de um mês. Pro poder mega-empresarial, acima dos poderes públicos, o lucro vale mais que a vida, as máquinas valem mais que as pessoas.

Depois, em Linhares, procurei uma alternativa pra voltar lá. Um drone. Voltamos na madrugada da quarta-feira de cinzas e, quando amanheceu o dia, o drone fez o serviço.Escaldados com a truculência da segurança da Samarco, que nos abordou em Bento Rodrigues de tal maneira que tivemos que armar uma fuga improvisada - eu fiquei de isca enquanto Rafael e Kenny saíam do local com as fotos e filmagens -, saímos da área voando na kombi, por estradinhas que passavam dentro das fazendas, de volta a Linhares. Nada aconteceu, então.

Andei com essa filmagem, sem conseguir editar, por um tempo, já que não tinha grana, não sei fazer edição nesse nível e o que consegui não estava satisfazendo. A amiga Paula Thebas levou pra Sampa e Wagner Pacífico fez o serviço. O resultado taí.

Trata-se da limpeza dos resíduos da mineração que assassinaram a vida do rio Doce e estragaram a vida de milhões de pessoas. Há solução plausível, mas só se aplicou nos interesses empresariais. O povo, ora o povo... numa ditadura banqueiro-mega-empresarial, o povo tá claramente em segundo plano. Os lucros e o patrimônio valem mais do que a vida.

https://youtu.be/ctC758ikEGc

observar e absorver

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